A traição é traumatizante em qualquer relação amorosa. Descobrir um caso extraconjugal pode ser algo devastador porque atinge muitos aspectos da identidade da pessoa traída, levantando dúvidas nela se é possível continuar o relacionamento após a traição.
Geralmente, o traído tem a confiança abalada no parceiro e na relação de forma geral, abrindo a porta para inúmeros pensamentos e emoções, desde questionamentos sobre a sua própria atratividade, passando por medo da perda, além de ataques de ansiedade.
Por isso, a grande pergunta que fica é se é possível sobreviver a uma traição.
A dor da traição
As raízes do medo da traição remontam desde a infância. Quando crescemos, buscamos a previsibilidade nas experiências e nos cuidados que recebemos de nossos pais. Entretanto, mesmo na fase adulta, nosso cérebro busca inconscientemente essa previsibilidade para construir a nossa visão de mundo.
Porém, após uma traição, essa visão de mundo é anulada, o que explica porque a traição pode ser tão dolorosa
Mais do que isso, após o evento de infidelidade, o cérebro pode entrar em um estado de hipervigilância que, se não tratado por um psicólogo, pode tornar a pessoa ansiosa, ciumenta e desconfiada, reduzindo a confiança dela em futuros relacionamentos.
Por mais que a maioria dos relacionamentos chegue ao fim após um episódio de traição - geralmente em um divórcio amargo - em determinados casos há um esforço dos dois lados para restaurar os sentimentos de confiança e, assim, consertar o relacionamento.
Reconstruindo a confiança
Já adianto que a tarefa de recuperar a confiança não é nada fácil. Por outro lado, esse esforço pode ser altamente recompensador.
A primeira coisa a entender é que nem sempre a infidelidade é motivada por algum problema no relacionamento. Com isso, a traição pode ser uma maneira da pessoa traída entender melhor o parceiro e os motivos que o levaram a ser infiel.
Se o traidor estiver realmente disposto a consertar as coisas, é possível estender não apenas o laço romântico entre o casal, mas também ampliar a amizade entre os dois. Essa amizade exige que os parceiros estejam dispostos a compreender o mundo interior um do outro, incluindo necessidades, desejos e motivações.
Outro ponto importante é identificar os pontos que motivaram a traição, e que ambos os lados assumam alguma responsabilidade no episódio, inclusive a pessoa traída. Esse processo pode ser mediado durante uma terapia de casal.
Nova vida
Após estabelecer a responsabilidade mútua, é importante ajustar o senso de controle. O traidor precisa estar disposto a ceder um nível de controle para o traído, para que a confiança seja restabelecida com o tempo.
Entretanto, o traído não pode exagerar nesse controle, invadindo a individualidade do parceiro.
Também é importante que ambos os lados evitem humilhar um ao outro, cutucando a ferida que ainda está cicatrizando. Afinal, se o caminho escolhido foi salvar o relacionamento, não deve existir espaço para uma potencial vingança.
Porém, é possível que essa ferida seja muito profunda e que o traidor continue fazendo coisas que não inspiram confiança. Neste caso, cabe única e exclusivamente ao lado traído avaliar se tem a capacidade para perdoar o traidor e seguir em frente.
Decisão final
Os sentimentos de mágoa e raiva podem dificultar a tomada de decisão. Além disso, o fato de a confiança da pessoa traída ter sido violada pode torná-la menos capaz de acreditar nas palavras de seu parceiro.
Reconstruir a confiança após uma traição é uma aposta para os dois lados. Para o traidor, a aposta é mudar comportamentos para não magoar novamente alguém que ama, assim como uma motivação para reconquistar o amor dessa pessoa. Para o traído, a aposta é que o ato de permitir-se perdoar e, potencialmente, se machucar novamente, vale o risco de manter e até melhorar o relacionamento.
Independentemente da situação, a palavra final sempre será da pessoa traída. É uma decisão difícil, mas, o que ela decidir, será sempre o caminho correto a ser seguido.
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